segunda-feira, 30 de junho de 2008

nós dois
estamos olhando
para a mesma estrela
nós dois
nós três nós mil
para a mesma estrela brilhante
como o leão
o sol não pode ficar indefinidamente
na caverna-na-na
o cosmo em festa
no sorriso da terra
nós dois
nós três mil
e um amor que não acaba mais

sábado, 28 de junho de 2008

morangocéu

não vou deixar de sonhar
olhando a neve tão linda
santa luzia que dia
a vista azul de amaralina
e no pólo sul as borboletas
enfeitam a avenida paulista
no corpo branco do inverno
passeia uma canção bonita
de lábios muito encarnados
morangocéu se explica
e no mar os holandeses
foram olhar as margaridas
bate o amor no peito
da espanha pelo sol
e lampião nas polinésias
com sua paixão baby mary
numa cena bonita
juntos por bangladesh

sexta-feira, 27 de junho de 2008

cantar do jeito que posso
posso compreender
sua alegria e boa vontade não fazem mal a você
nem a água pura nem o amor do sol
nada é para sofrer pela sua mão a vida a correr
como dança o mar chuva faz crescer
cresça sem morrer morra pra nascer
o lírio é branco seu amor é luz
a pátria é bela se o mundo é feliz a gente quis

quinta-feira, 26 de junho de 2008

sua scânia é um escândalo
nas estradas azuis da oceania
quem é filho de netuno aqui?
cada um como suas bananas
o elevador foi por haití
purpúreos domingos de madri
senhora de azul onde fica
a sala de blue?
romã antes que anoiteça amadureça
balé baião coração caribe
salve sol de iracema

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Meu amigo Geraldo Urano
Perdão, por não está na altura da sua órbita
Logo agora que você quer ser rebaixado
Da sua condição de poeta
Mas quero dizer, meu amigo,
Você é a sua melhor poesia
Quando rasgou seus documentos
Cuspiu no banquete dos homens
Acendeu um incenso aos deuses
Cantou suas musas e atravessou a fronteira
Para nunca mais voltar

(Carlos Rafael Dias
)
a visão do ancião
contente como passarinho cantando em alta antena
abrindo o mapa no quarto
aquelas terras são pássaros chorando as suas penas
quando antártida era pequena
seu tio um beduíno fez uma longa viagem
disse não leiam violência onde está violeta
quando voltou tudo ficara escuro
onde estava violeta tinham lido violência
era uma estranha cena
nas ruas os corvos pregando a misericórdia
e eu me lembrei dos dias tranquilos de ipanema
ainda veremos livres as emas

terça-feira, 24 de junho de 2008

sei que as pessoas são tão lindas

eu hoje me senti sozinho
sei que as pessoas são tão lindas
nenhum sinal do espaço
na rosa da minha mão
para onde eu fui meu amor
e o que foi que eu fiz
sem um sorriso eu vou pensando
em quem morreu na prisão
lá fora o sol estende a mão
meu amor
eu vou passando até amanhã

domingo, 22 de junho de 2008

a praia é um país perto do mar

manhã cor-de-rosa
pô-imã do tempo
e uma das rosas do vento
na rua a chuva caminha
mostrando seu rosto molhado
a chuva é um estado
a praia é um país perto do mar
o mar tem suas estrelas
estrelas-do-mar

sexta-feira, 20 de junho de 2008

a saúde tomou veneno e em vez de morrer começou a dançar

as leis do futuro não estão nos botões de computadores, mas nos botões de rosa

quinta-feira, 19 de junho de 2008

a preocupação é uma prostituta sem cárater

segunda-feira, 16 de junho de 2008

se eu quiser fico de noite

nos dias contemporâneos
passam ônibus
voam borboletas sem conta
são os sonhos
nos olhos da cidade
se eu quiser fico de noite
só para ver a lua
as ondas são balançadores
e os barcos meninos nadadores
que canção em inglês vai me dizer bom dia

domingo, 15 de junho de 2008

era uma manhã com nuvens, pássaros
e árvores floridas
uma manhã musicada pela brisa
e as flores respondiam aos sorrisos
e os pássaros se aproximavam da gente
e a manhã era um pássaro
voando na felicidade da gente
e a gente tinha vida no verde das árvores
e nenhuma palavra feria o sol ou as nuvens
e a gente tinha aroma nas flores de toda cor
e a manhã era aroma e tu tão cheirosa
e teus cabelos em longos cachos
como cachos de luz dourada
e a luz do sol fazia o seu trabalho
na pele da gente na terra macia
na água brilhosa dos riachos

sábado, 14 de junho de 2008

Um ônibus atropelou o amor. A humildade afundou no mar. Restou a intolerância, tão mal aceita em todo lugar. Logo ela que deveria ser praticada até as últimas conseqüências. Ela late como um cão da humanidade. É como um sol cujos raios encontram sempre as janelas fechadas. Nas capitais e no interior as balas zunem sobre nossas cabeças. O mundo nunca foi tão bom e tão violento. A destruição pede passagem. Enquanto isso, as aparições de Nossa Senhora se multiplicam. O Dalai Lama fala de compaixão. Todo mundo chora por dentro. A evolução é apenas uma questão de enxergar cada vez mais. Se enxergarmos pouco é porque as trevas são espessas. Nossos olhos são pequenos e o nosso coração é duro. A dobradinha da vitória; tecnologia e sexo, não é tudo. O povo geme, emocionalmente falando. Falta ternura, falta carinho e afeição, nas famílias.
O sentido da vida é a doação. Precisamos nos doar. Sem isso, as traças invandem o guarda-roupa. A lua ainda é importante. Vamos olhá-la, e as florestas pedem proteção. Homens e animais são perseguidos. Os pássaros cruzam um céu cada vez mais negro. Mas é preciso ver o belo do mundo e rezar. Deus não nos abandona, quer apenas coisas dentro de si, e é preciso abençoam e salvam. É melhor ter a natureza como amiga do que como inimiga. Os alertas estão por toda parte. Só as canções não resolvem. A política deve colaborar e a diplomacia não é só para almoços e jantares. Todas essas palavras estavam no caderno de Juana. Com seus lindos pés ela caminhava na beira do mar ao lado de Chico, seu namoradinho de 15 anos. Ela já passa dos 30.
Chico, dizia ela: o amor é para os eleitos e a humildade para os grandes. Como somos pequenos, Chico, como somos pequenos. No céu, o planeta Vênus brilhava como que ouvindo a conversa e admirando a beleza do casal.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Carta a Luiz Adão (II)

Crato, 25 de 08 de 1987.

Caro Amigo Luiz Adão.

Sou como uma bola de soprar cheia de átomos de urânio. E que esta nova segunda-feira novinha é mais um bebê nascido no apocalipse. Sei que não estou invicto e o peso do recente internamento, como o de uma jibóia imensa, ainda curva os meus 34 anos. As musas parecem dançar muito longe do mal e mentiroso poeta. O sol ilumina as pequenas e débeis bananeiras do quintal. Minha mãe varre a casa e eu paro para olhar. Ela e a santa imagem. E embora se fale das cores do Brasil e do vermelho da Espanha, que o mundo fumegue e os foguetes partam, a Terra ainda é azul. Um doce limão azul? Neste pequeno mundo de cidades enormes e bilhões de pessoas, a preocupação bate à minha porta- é uma velha companheira de infância. Jà tomei os remédios das 8hs.

Com um abraço,

Geraldo Urano

quinta-feira, 12 de junho de 2008

ohio state
minha camiseta branca
com um zero azul
um zero artístico
ohio state
mas eu conversava
com uma garota do arizona
ohio state
em vermelho no peito
vermelho azul e branco
são as cores da américa
por mais que hollywood
deseje e até usa
ouvi dos seus lábios
são as cores da américa
ohio state
não há outra saída
para a terra
nossa cidade fraterna
irmã das outras terras
o universo é unido
ohio state
minha camiseta branca
com um zero azul
um zero artístico

terça-feira, 10 de junho de 2008

Salute, poeteiro Geraldo Urano!

(Carlos Rafael)

O poeta completou 55 anos de vida
Fui visitá-lo na sua casa na vila novo horizonte
Ele não estava, pois está internado na casa de saúde santa teresa
Levei uvas, maçãs e tangerinas
Para presentear o poeta maior
Que faz cumpletaños hoje

O poeta é um ser sofrido, mas livre
Apesar de todo prontuário possível
Ele é livre sob quaisquer tortura e circunstância
Como o soldadinho-de-chumbo do araripe
Saltitante e cantante como os mais respeitados bluesmen do mississipi

Salve, salve, Geraldo Urano, poeta maior
Que fez da vida sua melhor poesia
E a escreveu num papiro incandescente
como um louco escriba
Em pleno delta do nilo

Que o poeta pelo menos sobreviva
Como sobrevive sua poesia
E que diante dele a vida imponha a pena
De sentimento e registro
O que se deixou de herança
Para as gerações passadas e futuras

Meu amigo e irmão de esquina
Do parque municipal e da quadra bicentenária
Boas as biritas sorvidas no Bar de Aderbal
Naqueles invencíveis anos oitenta

sábado, 7 de junho de 2008

Prefácio do livro Vaga-Lumes, por Rosemberg Cariry



palavras de um companheiro. ceia de reencontro. cantiga de amizade. história das águas que jorram das nascentes da serra, das encostas do mundo, do vale do cariri.

falar de geraldo urano é falar de um amigo, de um companheiro com quem reparti momentos alegres e também difíceis na pré-história dos anos setenta. tempo de luta, de criação e de sonhos, apesar da ditadura. o poema destramelado na garganta, a voz e a poesia, chama de vida, nas praças e nos palcos. o coração do mundo para nós pulsava no cariri e mágico era o nosso mergulho naquele universo de serras verdes y águas claras y cheiro de buriti maduro y vozes do povo y do rugir dos séculos na língua acesa do sol.

crato/cratera, 1973/76. grupo de arte por exemplo. peças de teatro, exposições de arte, filmes, festivais de poesia e música. baião de todos. geraldo urano, luiz carlos salatiel, rosemberg cariry, deca, cleivan paiva, emerson monteiro, jackson bantim, bá freire, hugo, josé roberto frança, jefferson júnior, socorro sidrim, múrcio, paulinho, audízio e tantos outros. inumeráveis nomes, inumeráveis vozes, inumeráveis sonhos vivificados pelo signo do encontro, depois marcados pela diáspora imposta pelo fascismo militarista no poder. era "um tempo de guerra" e nós não sabíamos, enfeitávamos o brilho da nossa juventude com ramos de manjericão, enquanto muitos conheciam a tortura e a morte. caminhar é preciso, refaz-se a vida e a consciência. cinco anos é tempo de gestação. na "nação cariri" cresceu a semente do primeiro encontro, alargou-se a porteira da voz, firmou-se a certeza dos necessários passos junto ao povo. construção da luminura, luz, luzir, fogueira ardendo na noite, corações cariri abertos em perfume e claridade.

a partir do cariri, terra marcada pelas unhas da história, a poética de geraldo urano criou asas, rompeu cercas, ganhou o mundo, ensaiou o seu projeto de universalidade. muitos poemas viraram canções na voz de luiz carlos salatiel, pachelly jamacaru, cleivan paiva, bá freire, cirino e paulinho. na beleza dos seus versos estão os países, as cores dos povos, a semeadura do sonho, a busca da paz, a canção de amor. a poesia de geraldo não tem fronteiras, fala do mundo como quem fala do quintal da sua casa e do quitnal da sua casa como quem fala do mundo. em tudo uma marca inconfundível: o verso novo e inovador, a musicalidade das palavras que se entrelaçam como trepadeiras que escalam muros e desabrocham a flor nos cabelos das ruas; a ironia cortante que desaloja a ferrugem; a crítica audaz aos inimigos da vida; o imenso amor que o liga à natureza. sobretudo, seu canto de esperança no homem, sua fé na liberdade e no advento de uma sociedade de coletiva felicidade. um momento novo, jovem, audacioso e sereno, ao mesmo tempo. o poema enquanto possibilidade de vida, poesia farta de manga-rosa, jorro abundante de leite de vaca que pasta estrelas na boca da noite. via-láctea.

vaga-lumes é apenas um momento da poesia de geraldo urano, um piscar de luzes na escuridão. nós que conhecemos e acompanhamos a sua produção poética, esperamos também que ele nos brinde, qualquer dia destes, com um livro mais volumoso que reúna os muitos momentos da sua fértil e irreverente criação. algo assim como um prato de estrelas, servido na mesa da grande noite que pesa sobre a nação brasileira. festa em casa de camponês, quando o inverno é bom, quando se assenta a poeira do corpo, quando a consciência e a disposição revolucionária do povo é canção maior, falam mais alto que a voz dos tiranos e dos exploradores. viva a poesia. que badzé saiba desta simples oferenda.

Rosemberg Cariry

cidadadela de nuestra señora del assución, capital da província pré-histórica do siará grande, no mês de abril (flores e povo nas ruas. diretas já), no ano difícil de mil novecentos e oitenta e quatro.

terça-feira, 3 de junho de 2008

mulheres da china

deixem passar as suaves mulheres da china
vejam que lindo o mar do rio de janeiro
nele vão se banhar as meigas mulheres da china
que avião é aquele? é um avião chinês

deixem que a china mostre
ela sabe como é que faz
que sol é aquele que vem iluminando tudo?
é o sol chinês

e vamos todos galopando
é o galope da alvorada
ó deixem essa coisa linda passar
ela é uma coisa que não engana