sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Pachelly Jamacaru canta parceria com Geraldo Urano na TV

Recentemente, o cantor e compositor cratense Pachelly Jamacaru, que despontou na música caririense no celebrado Festival Regional da Canção, nos anos 1970, - foi o entrevistado no programa Pelo Cariri (Café com Tapioca), da TV Verdes Mares Cariri. Quando foi solicitado pelo entrevistador, Rodrigo Vargas, para cantar uma canção que poderia representar o conjunto de sua obra (por sinal, uma obra por demais extensa, com cerca de 300 composições), Pachelly, mesmo sem citar o autor da letra, cantou A cor da alegria, música sua em parceria com Geraldo Urano, que integra o seu primeiro disco, Balaios da vida, de 1995.

Confira:
http://g1.globo.com/ceara/pelo-cariri/videos/t/todos-os-videos/v/pelo-cariri-entrevista-pachelly-jamacaru-no-cafe-com-tapioca/5007944/

Página de Abidoral Jamacaru no Facebook presta tributo a Geraldo Urano

Em uma semana marcada por perdas no cenário cultural do Cariri, mais um grande amigo e parceiro se vai. A cultura do Cariri está mais uma vez órfã. O poeta e músico Geraldo Urano nos deixou. Urano marcou os anos 70 com suas performances vanguardistas durante os Festivais da Canção do Cariri. Poeta transcendental, falava de liberdade, solidariedade, universalidade, das leis da natureza e satirizava as leis sociais.

Apaixonado pelas palavras e ideias, criou grupos de debates e ações voltados para a cultura e a arte. Urano também foi mentor da Geração Mimeógrafo responsável por várias publicações com textos literários e desenhos.

Durante sua carreira escreveu livros solos e em parceria, além de publicações em jornais, revistas, fanzines e cordéis. Compôs letras de músicas ou poemas musicados em parceria com compositores caririenses, dentre eles, Abidoral, com quem fez parceria nas músicas “Lua de Oslo”, “Nada de novo”, “Cuba” e “Deixa estar”. Além da parceria musical com Abidoral, Urano, era amigo de juventude e integrante da famosa e saudosista “Turma do Parque”, embrionária de vários movimentos culturais no Cariri.

Deixamos aqui nossas saudades...

Fonte: https://pt-br.facebook.com/abidoraljamacaru/

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Geraldo Urano cantado pela nova geração: Aquiles Salles


Guitarrista, cantor e compositor caririense, Aquiles Salles desenvolve diversos projetos musicais que vão do trabalho autoral ao de eclético intérprete.

Há dez anos atua no cenário musical independente, participando de bandas como Papagaio do Futuro, Nacacunda, Nostravamus Roots Reggae e mais recentemente Al Capone Tá é Bêbo, que teve aceitação muito significativa na região do Cariri.

Um dos seus mais recentes espetáculos, intitulado "Cariri Autoral - Nascentes da Contracultura"  inclui, além de composições do próprio artista, releitura de composições de Abidoral Jamacaru e parcerias com o poeta Geraldo Urano, que além de alguns poemas recitados, tem sua poesia musicada pelo artista na canção “Casa dos Loucos”. Geraldo Urano é homenageado também através de novas versões das músicas de outros compositores do Cariri cearense como “A Mulher da Rua do Poeta” de Pachelly Jamacaru e “Leia Na Minha Camisa” de Luiz Carlos Salatiel (ambas em parceria com Urano).

CONFIRA:

 https://soundcloud.com/aquiles-salles/multicolor-aquiles-salles-poesias-de-introducao-geraldo-urano

https://soundcloud.com/aquiles-salles/a-mulher-da-rua-do-poeta-geraldo-urano-pachelly-jamacaru-e-aquiles-salles


Site Cariri é Isso repecurte e lamenta falecimento de Geraldo Urano

MORRE UM GRANDE NOME DA CULTURA CRATENSE

Faleceu na cidade do Crato o poeta, compositor, músico e cantor Geraldo Urano Batista. Um rapaz que viveu a vida sem extremismos para alcançar as coisas materiais, humilde ao extremo, mas um gentleman, assim com o são todos os membros de sua família. Geraldo é bem mais velho do que eu na idade, mas ainda me lembro dele adolescente e eu criança brincando no Parque Municipal, todos misturados, pois nunca vi m ambiente tão apropriado para pessoas nessas fases da vida como o era o nosso querido Parque e que hoje se transformou numa bela praça e a Quadra Bi Centenária ganhou reforma física, ficando bem mais moderna.

Nossos pêsames à família Lima Batista Paletó.

Fonte: http://www.caririeisso.com.br/2017/02/morre-um-grande-nome-da-cultura-cratense/

Prefeitura do Crato emite nota de pesar pelo falecimento de Geraldo Urano

Nota de Pesar pelo falecimento do artista cratense Geraldo Urano

09h15 - 06.02.2017

A Prefeitura Municipal do Crato manifesta a sua consternação pelo falecimento do artista cratense Geraldo Urano, 63, ocorrido na cidade do Crato, neste domingo, 05/02/2017.

Geraldo José Lima Batista fez parte da cena cultural caririense durante grande parte da sua vida por meio de suas palavras. Escritor, poeta músico e contemporâneo de artistas e intelectuais da vanguarda cratense, Geraldo contribuiu ricamente com o Festival da Canção criado nos anos 70, entre outros movimentos em prol da cultura local. Deixa obras como "Despretensionismo" em parceria com Rosemberg Cariry, "Vaga-Lumes, "O Belo e a Fera" e "O Ferrolho do Abismo". Um poeta que soube encantar a muitos com o vigor de sua poesia.

Prefeito Municipal do Crato Zé Ailton Brasil

Secretário Municipal de Cultura Wilton Dedê


Fonte:  http://www.gazetadocariri.com/2017/02/nota-de-pesar-pelo-falecimento-do.html

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Geraldo Urano no site da revista Cariri

O site da revista Cariri republicou o artigo de autoria do médico e escritor José Flávio Vieira, intitulado “Sou um sapo que engoliu uma estrela”, que presta uma homenagem ao poeta Geraldo Urano. O artigo foi originalmente publicado em uma rede social da Internet no dia do falecimento do poeta.

Também, cita e linka o artigo de autoria do historiador Carlos Rafael Dias que "conta um pouco da vida de Geraldo, cita algumas de suas poesias e analisa a importância do poeta para a história e as artes do Crato", publicado no Blog do Crato.

Ainda, publicou um vídeo onde Geraldo Urano e o cantor e compositor cratense Luís Carlos Salatiel interpretam uma parceria musical dos dois.

Confira: http://caririrevista.com.br/sou-um-sapo-que-engoliu-uma-estrela/

Geraldo Urano – por Olival Honor de Brito

Os poetas não morrem. Atendendo ao seu chamamento, emudecem e se transferem ao Olimpo, a morada bendita dos Deuses e das Musas, para o convívio eterno da felicidade, nos braços abençoados da Poesia. Foi assim com Geraldo Urano, o genial Menestrel do Parque Municipal. Aos 63 anos de idade, achava ter ainda muitos versos a decantar. Por isso para seu cunhado, mestre dos pincéis e das tintas, seu último poema, rogando: NÃO ME DEIXEM MORRER! (Esquecido ele próprio de sua condição de IMORTAL POETA DO CRATO).

Foi ali que o conheci, no romântico bosque onde viveu muitos anos. A ele, à sua mãe, Dona Erice, de quem Geraldo herdou a vocação, às suas cinco irmãs, das quais me tornei amigo, apresentado por uma das muitas musas daquele logradouro famoso, palco glorioso onde uma mocidade vibrante e inteligente, viveu com ele as artes cênicas, a pintura, a música e a poesia, no doce encanto de uma juventude idealista, agora imortalizada por Geraldo Urano.

Crato, 12.02.2017

Olival Honor de Brito

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Geraldo Urano homenageado em praça pública

Programa Rapadura Culturarte presta tributo ao poeta-maior de "Craterdã"

O programa  Rapadura Culturarte, promovido e apresentado pelo professor Jorge Carvalho, prestou uma singela homenagem ao poeta Geraldo Urano, falecido no último dia 5 de fevereiro.
O evento, ocorrido na manhã deste sábado, 18, na praça Siqueira Campos, centro do Crato, foi prestigiado por um significativo público.
Com a presença de familiares do poeta, diversos artistas celebraram, com música e poesia, a obra e a vida  de Geraldo Urano, conforme se vê pelas fotos abaixo:


 "Varal" com imagens de várias fases da vida do poeta

Prof. Jorge Carvalho, apresentador do Rapadura Culturarte




De poeta para poeta (1): Olival Honor ler crônica para Geraldo



 João do Crato e Abidoral Jamacaru na órbita uraniana

 João do Crato canta Urano: do regional ao universal

 De poeta para poeta (2): Lupeu Lacerda recita Geraldo Urano

 João Paulo: sobrinho e parceiro

Familiares e amigos de Geraldo: Heron Aquino (cunhado), Ana, Fátima e Claudinha (irmãs), Márcia Figueiredo e Roberto Jamacaru (amigos de infância)

 
 Mais amigos: Jorge Carvalho, Carlos Rafael, Lupeu Lacerda e Jô Garcia


Márcia Figueiredo, Olival Honor, Abidoral Jamacaru, Victor e Roberto Jamacaru

Fátima (irmã) agradece a homenagem

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Geraldo queria um grande amor



Ribamar Junior

Anoitece em Craterdam e Geraldo deixou a colher cair no prato de estrelas. Rezou uma Ave-Maria ardente para Janis Joplin em novembro e partiu. Colheu sabonete jeans e Coca-Cola na terra Virgem Constelaçante e abriu o ferrolho do abismo. O dia 5 de fevereiro antecedeu o carnaval da rota de Urano e abriu caminho pelas gotas de leite do peito da Via-Láctea.

Conheci Urano por versos, papéis, fotografias e curtos vídeos de viagens do poeta. Conheci Geraldo pelo o que ele queria que eu conhecesse dele. Não olhei nos seus olhos ou muito menos apertei sua mão, ou disse o quanto gostava dos seus versos, ele gostava disso. O ano era 2013 e eu, ao lado das meninas do Estúdio Caravelas, Raquel Arraes, Fernanda Loss e Constance Pinheiro, participei da produção da exposição Estação Urano na programação do 7º Festival Rock Cordel do Centro Cultural Banco do Nordeste de Juazeiro do Norte. O evento Uma Noite em Craterdam abriu horizontes para dentro do poeta que escreveu O Amor é uma Cãibra.

Eu vi Urano pela primeira vez cruzando o céu, de olhos fechados. A madrugada do dia 6, na sala 2 de velório, quatro pessoas velavam o corpo de Geraldo. O seu sobrinho, com os olhos fundos, também de poeta me recitou alguns versos ainda inéditos e disse que as últimas palavras de Geraldo, na cadeira de rodas do hospital, foi: “Me dê uma Coca-Cola”.

O refrigerante de cola era uma das bebidas preferidas de Geraldo Efe. O sobrinho, que não perguntei o nome, disse que nos últimos dias ele sentia falta de carinhos. Falava que queria casar e com a primeira mulher que aparecesse. Geraldo queria ter um grande amor. Agora, ele esculpe a Era de Aquário, e apesar de ter ido para Veneza, onde morou, achou Deus e casou pela segunda vez, Urano queria um amor. Urano agora é azul. Não só fala de Nova Olinda como de Nova Orleans, fala do Cariri e entra para história da literatura de uma Crato cósmica.

Fonte: http://revistacharm.com.br/geraldo-queria-um-grande-amor/

Rapadura Culturart homenageará o poeta Geraldo Urano

O programa Rapadura Culturart, apresentado por Jorge Carvalho, prestará uma homenagem ao poeta cratense Geraldo Urano, falecido no último dia 5 de fevereiro. Será neste sábado, dia 18, a partir das 8:30 Horas, na praça Siqueira Campos, centro do Crato.
A homenagem contará com a presença de amigos e familiares de Geraldo Urano, com recital de poesias e canções interpretadas por Abidoral Jamacaru, Luís Carlos Salatiel, Carlos Rafael, Lupeu Lacerda e Wilson Bernardo, dentre outros. Na ocasião, serão sorteados exemplares do último livro de Geraldo Urano, "O ferrolho do abismo", que reúne grande parte de sua produção poética, incluindo os livros "Vaga-Lumes" e "O belo e a fera", lançados originalmente na década de 1980.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Sete dias sem Geraldo Urano


Fazem sete dias (número emblemático) que Geraldo Urano deixou de orbitar em volta desta terra. Hoje rezamos pela sua alma eterna e celebramos seu retorno ao Supremo

Geraldo Urano agora é uma estrela no céu


Texto e foto: Carlos Rafael Dias

5 de fevereiro de 2017 foi um triste dia para a cultura caririense. Nesta data,o poeta Geraldo Urano faleceu vítima de de uma parada cardiorrespiratória em decorrência de problemas no pulmão.

Geraldo Urano nasceu em Crato, no dia 10 de junho de 1953. Na década de 1970 participou dos Festivais Regionais da Canção, onde se celebrizou pelas suas performances vanguardistas, rompendo com o padrão tradicional de participação nesse tipo de evento. Atuou também no grupo de arte Por exemplo, formado por “jovens da pequena classe urbana local” (CARIRY, 2010, p. 107) que desenvolvia atividades artísticas e culturais. O grupo publicava uma revista mimeografada com textos literários e desenhos, onde Geraldo Urano estreou como poeta.

Fermentada no bojo do fenômeno que ficou conhecido Geração Mimeógrafo[1], a produção de Geraldo, apesar de intensa, teve publicação escassa. Foram apenas dois livros solos[2], um em parceria[3], um livro que reuniu pretensamente suas “poesias completas”[4], participação em uma antologia[5], poemas e textos publicados em jornais, revistas e fanzines[6] e um longo poema publicado no formato de folheto de cordel[7], além de letras de música ou poemas musicados em parceria com compositores caririenses e gravados em disco[8].

Nas suas características mais marcantes, como a liberdade, a solidariedade, a universalidade e, ao mesmo tempo, a reverência para com as leis naturais e a irreverência para com as leis sociais, é de Rosemberg Cariry, companheiro nos movimentos artísticos caririenses nas décadas de 1970 e 1980, uma definição aproximada da poesia de Geraldo Urano:

a partir do cariri, terra marcada pelas unhas da história, a poética de geraldo urano criou asas, rompeu cercas, ganhou o mundo, ensaiou o seu projeto de universalidade. [...] na beleza dos seus versos estão os países, as cores dos povos, a semeadura do sonho, a busca da paz, a canção de amor. a poesia de geraldo não tem fronteiras, fala do mundo como quem fala do quintal da sua casa e do quintal da sua casa como quem fala do mundo. em tudo uma marca inconfundível: o verso novo e inovador, a musicalidade das palavras que se entrelaçam como trepadeiras que escalam muros e desabrocham a flor nos cabelos das ruas; a ironia cortante que desaloja a ferrugem; a críticas audaz aos inimigos da vida; o imenso amor que o liga à natureza. sobretudo, seu canto de esperança no homem, sua fé na liberdade e no advento de uma sociedade de coletiva felicidade (CARIRY, 2015, pp. 14-15).

Do Cariri para o mundo. Uma frase que bem poderia ser uma paráfrase do conselho de autoria atribuída ao escritor russo Leon Tolstói - “se queres ser universal, canta primeiro a tua aldeia”. No entanto, confirmando uma característica que é marcante na poética geraldiana - a sua desvinculação a rótulos e a esquemas pré-definidos, Geraldo subverteu essa máxima. Apesar de ter seguido à risca a filosofia dos poetas beats e ter se tornado um andarilho por um período de sua juventude[9], praticamente viveu na cidade em que nasceu. Foi do regional ao universal e voltou ao regional sem nunca, a rigor, ficar preso a fronteiras, geográficas ou imaginária, ou mesmo a convenções de territórios livres. Seu endereço, portanto, nunca foi geográfico, com CEP ou comprovante de residência, conforme ele revelou em um poema da sua safra inicial:

me procure em seu coração
esse
é o endereço mais próximo
e onde
você pode me encontrar
na sua cidade eu apenas nasci
e o mundo
tem muitas cidades
como o céu muitas estrelas
e como o vento estou sempre
em movimento
posso estar agora
no planalto central e logo mais
em detroit
por isso me procure em seu coração
onde é certo você me encontrar
(URANO, 1984, p. 49)

Foi deste seu cordial endereço que Geraldo alçou voos imaginários para cantar o mundo e idealizar sua própria Pasárgada, que ele batizou de Craterdã. Afinal, diabeísso?   Uma possível resposta que começa interrogando: “Craterdã? (assim mesmo, com til), Cratuniversal. Crato cósmica, interestelar, intergaláctica, gêmea de Amsterdã ou Amsterdam, semente plantada e fosforescendo no seio da Mãe Gaya” (REJANE, 2015, p. 7). O neologismo apareceu, pela primeira vez, como título de um poema em prosa[10], mas que acabou virando uma espécie de representação imaginária que a “rapaziada” underground acabou adotando e que foi resgatada recentemente, conforme a poeta Cláudia Rejane registrou no prefácio de O ferrolho do abismo:

Por esses mesmos tempos, andavam pelo vale Raquel Arrais, Constance Pinheiro e Fernanda Loss, nascidas na década de 80, quando Craterdã fervilhava ao som da nossa contracultura, com guitarra elétrica, bateria, pífano e zabumba. As moças entraram em contato com o assombro, a agonia, o delírio e o encanto das uraniversalidades e, reunidas num estúdio sugestivamente chamado de Caravelas, embarcaram na viagem interestelar, geraldeando em 2013 o projeto Uma noite em Craterdam, no intuito de trazer vaga-lumes e outras luminosidades uranianas a público. O projeto foi abraçado pelo CCBNB/Juazeiro do Norte[11] , inserido no VII Rock Cordel e realizado de 15 a 20 de janeiro de 2013 (REJANE, Idem).

O reconhecimento da nova geração, nascida quando Geraldo Urano já estava impedido, por razões de saúde, de manter a sua efervescente “agenda” artística, é uma prova do longo alcance e da perenidade de sua obra. Isso foi possível por conta do exercício profundo e radical pelo qual se revestiu essa produção, fortemente marcada pela conjuntura que influenciou sua formação, tanto artística como existencial, em um sentido bem mais amplo.

As primeiras produções poéticas conhecidas de Geraldo datam do início dos anos 1970, mas sua metamorfose iniciou-se já no final da década anterior, nos ‘loucos’ e revolucionários anos 1960. Por essa época, o Cariri passava por uma onda de intensa e célere transformação, resultado da confluência de forças que operava tanto no plano interno como externo. Desenvolvimento com modernização é a chave para compreender aquelas mudanças que se efetivavam no plano regional, mas com forte influência da conjuntura global.

As utopias juvenis cultuadas em várias partes do planeta naquela época de efervescência, participação e experimentação convergiam em torno da construção holística da ‘Era de Aquarius’, da qual os artistas caririenses, em especial Geraldo Urano, eram entusiastas apologistas.

Pelas temáticas, paisagens e fatos narrados em seus escritos, tem-se a impressão de que Geraldo compensou a sua breve educação formal nas leituras dos livros, além das informações que absorvia por diversos meios, um processo certamente facilitado pela presença da indústria cultural cada vez mais intensa a partir dos anos 1960. Na sua ânsia por novidades, a nova geração local buscou os canais de suas transmissões, não só os meios de comunicação de massa, como televisão, rádio e a grande imprensa, mas outras mídias alternativas, geralmente bens culturais disponíveis, tais como livros e discos que circulavam de mão em mão entre os amigos e filmes não comerciais projetados em cineclubes.

Não se queria somente mudar o mundo, mas principalmente torná-lo melhor. E em um contexto conjunturalmente adverso, por conta da ditadura em vigor, a juventude caririense buscava compatibilizar o prazer de viver com a necessidade de resistir ao ainda enrijecido establishment nacional, com armas e estratégias que não fossem pinçadas apenas de um manual de guerrilha. A arte foi uma das alternativas de participação de um grupo de jovens, pessoas egressas, na sua maioria, da Pastoral de Juventude da Diocese do Crato, que, na época, era chamada de Movimento de Juventude do Crato (MOJUCRA). Foram estes jovens que fundaram o Grupo de Artes Por Exemplo, além de proporem a realização de um festival de música nos moldes daqueles que aconteciam no eixo Rio-São Paulo. Geraldo Urano, que atendia pelo nome de Geraldo Lima Batista, não foi somente um participante dentre os outros, - foi um dos principais protagonistas daquele coletivo de artista. É o que demonstra a citação a seguir:

Em 1971 acontecia a penúltima edição do Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro, e o primeiro Festival Regional da Canção do Cariri, idealizado por Luiz Carlos Salatiel e Geraldo Urano, dois da Turma do Parque[12] que participavam do grupo católico Movimento da Juventude. O apoio do Padre Bosco foi fundamental para a criação do Festival, mas a interferência da Diocese não impossibilitou o evento de ser contestador e revolucionário, como deveria. Geraldo, que já havia sido Gandhi, Palitó, Efe e Batista antes de se autodenominar Urano, em uma das edições, foi carregado dentro de um caixão da entrada da Quadra Bicentenário até o palco (CONSPIRAÇÃO, 2014, p.48).

Ou seja, o protagonismo uraniano, extrapolando os versos escritos e publicados, alcançava outros meios, onde o próprio corpo era também um instrumento de expressão. Suas performances no Festival da Canção do Cariri, evento que aconteceu de 1971 a 1978, em Crato, são sempre lembradas pelos detentores da memória deste evento, como pode ser comprovado na citação acima. Assim também, pode-se dizer, foram antológicas as suas ‘intervenções’ nas várias edições do Salão de Outubro, mostra de artes promovida anualmente pelo grupo Por Exemplo, e que repercutia pela significativa representatividade de artistas participantes e diversidade de manifestações artísticas, como também pelo propósito de reunir as vanguardas artísticas e as manifestações ditas populares. Como um artista de vanguarda, Geraldo realizou performances originais e inéditas, para a época e para o meio, a exemplo de, numa demonstração de body art, expor o próprio corpo como parte de uma instalação artística. A cena, recapitulada pela memória de um artista contemporâneo, foi mais ou menos assim:

Corria o ano de 1974. Tempo fechado ainda. Os artistas cratenses driblavam a censura da plena ditadura e a monotonia da província cratense. Reinventavam-se como podia. O Salão de Outubro daquele ano, muito propositadamente, realizava-se nas dependências do antigo prédio que tinha sido um dia a Casa de Câmara e Cadeia. Numa das celas, quase uma masmorra, o poeta Geraldo Urano, exibindo sua magreza existencial e exibindo-se como uma obra de arte, permaneceu todo o tempo em que durou o salão, sentado como um yogui entre cacos de vidro e observando, com uma luneta, o público visitante[13].

Se a produção literária de Geraldo Urano, realizada entre as décadas de 1970 e 1990, tem alguma marca definidora, esta é a da ousadia das experimentações de linguagem, sem que a forma se sobreponha ao conteúdo.  A mensagem é muito forte, visto que ele sempre tem algo a dizer, demarcando espaços e pontos de vista. Neste sentido, o apogeu de sua obra é a década de oitenta, quando lançou dois interessantes livros: Vaga-Lumes (1984) e O Belo e a Fera (1989), além de publicar em jornais alternativos e compor canções em parceria com músicos da região. É dessa lavra a sua preocupação com o que na época se denominava de causa ecológica, onde o poeta denuncia os pesadelos da sociedade industrial contemporânea que são “vendidos” como se fossem itens de conforto:

uma coisa é sonhar
um dia viajar de boeing
outra coisa é pensar
no que vai pelo coração das baleias
em seu coração
sabe que no mundo deles
baleia quer dizer dinheiro
e são capazes de confundir
rodelas de cenoura com moedas de ouro

Geraldo Urano, bem além da perspectiva de militância ecológica que se desenvolvia na época, ainda bastante romantizada, cuja tônica era preservação da fauna e da flora em detrimento do próprio homem e de sua ambiência, - instiga uma simbiose holística, numa viagem ao centro da terra cuja senha é sentir-se um Jonas no interior da baleia. Em outro poema, se condói da desgraça de ser bacalhau nos mares da Noruega, tal como ser negro na África do Sul na época do apartheid. Mesmo assim, são os homens os amaldiçoados:

a lua cheia vagueia no céu de oslo
e nos mares...
lá embaixo os bacalhaus amaldiçoam a Noruega[14]

Ou ainda:

as aves voam e pousam
e voam e comem e voam e dormem
e voam e trepam e voam
e pousam e têm filhotes
e voam e cantam
e morriam
e hoje são mortas
(URANO, 1984, p. 53)

Naquela época ainda havia uma dicotomia entre a militância política propriamente dita e a militância ecológica, que depois seria chamada de política ambiental. A contribuição de Geraldo Urano, entretanto, foi muito além desta questão, visto que a tônica do seu discurso é o de enfrentamento direto ao establishment capitalista.

O bom combate da geração sessenta/setenta era contra um inimigo que, apesar de real, não tem uma única face e uma forma palpável: o velho e combatido establishment. Por isso, a luta a favor da vida e da felicidade vai dar-se em várias frentes, seja contra as ditaduras políticas que se instauram quase como uma regra no Terceiro Mundo, ameaçado que estava por uma onda revolucionária quase que totalmente jovem (tida pelo establishment como subversiva), seja contra aquilo que de mais conservador, no sentido reacionário e reativo às novas utopias, a geração anterior encarnava. Geraldo Urano, no entanto, não vai colocar sua poética a favor de uma militância partidária ou a uma causa política no sentido estrito do termo. Ao cantar Cuba, sua inspiração não foi a revolução encetada pelos ‘barbudos de Sierra Maestra’, mas da Cuba de

[...] homens, mulheres
e crianças
[...]
uma parte do corpo
da terra
como brasil e holanda
[...]
bonita como é bonito
um olho
ou qualquer outra
parte do corpo
por que vou fazer regime...
quando devo
consumir tanta esperança...
(URANO, 1984, p. 73)

Assim é a poesia uraniana: sem rédeas, sem limites, sem fronteiras, sem fim. Por isso, morreu hoje apenas o homem-matéria, pois o homem-poeta-espírito-luz continuará eterno, reverberando seus versos através das gerações e dos tempos.

Geraldo Urano, o mais novo imortal deste espaço-cósmico, que nós hoje, sob as bênção do Poeta, chamamos de Craterdã.

SALUTE, POETEIRO!


NOTAS


1. Geração Mimeógrafo, como ficou conhecida também a Poesia Marginal, foi um movimento literário que eclodiu, notadamente, no Rio de Janeiro na década de 1970, estando ligada ao fato de que muitos poetas recorriam ao mimeógrafo para copiar seus livros em um processo artesanal e sem qualquer tipo de vínculo com editoras, que não se interessavam pela produção dos chamados poetas marginais porque estes subvertiam os padrões literários e artísticos convencionados pela indústria cultural.
2. Vaga-Lumes (1984) e O belo e a Fera (1988).
3. Despretencionismo (1975), em parceria com Rosemberg Cariry (Antonio Rosemberg de Moura).
4. O ferrolho do abismo (2015).
5. Poesia de agora (1981).
6. Dentre outros, Seriará, Nação Cariri, Folha de Piqui e Jornal Sensurado.
7.  A cor do lírio (1986).
8.  Dentre outros, Guerra e Paz (Cleivan Paiva, 1983), Avallon (Abidoral Jamacaru, 1987), Nação Cariri (Bá Freire), Contemporâneo (Luiz Carlos Salatiel, 2004) e Na lata (Nacacunda, 2006).
9. No início dos anos 1970, Geraldo Urano viajou por vários estados brasileiros, deslocando-se através de caronas e sobrevivendo de artesanato, no mais autêntico estilo de vida hippie. Essa informação foi registrada na antologia Poesia de Agora (1981), organizada por Carneiro Portela..
10.  Publicado na edição de estreia do Folha de Piqui Jornal cultural alternativo que circulou no Cariri, em descontinuada periodicidade, na década de 1980.
11. Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri, localizado em Juazeiro do Norte.
12. Turma do Parque era a designação informal do coletivo de jovens artistas que frequentavam assiduamente o antigo Parque Municipal do Crato, hoje Praça Alexandre Arraes, localizada no centro da cidade. Alguns moravam nas imediações, como o caso de Geraldo Urano.
13. Depoimento dado ao autor pelo fotógrafo Jackson Bantim em 3 de agosto de 2016.
14. Trecho de poema publicado na antologia Poesia de Agora, organizada por Carneiro Portela e lançada pela Secretaria de Cultura e Desporto do Estado do Ceará, no ano de 1981.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CARIRY, Rosemberg. “Todos os caminhos levam ao Massafeira”. In: SOUSA, Ednardo Soares da Costa (Org.). Massafeira: 30 anos Som, Imagem, Movimentos, Gente. Fortaleza: Edições Musicais, 2010, pp. 96-123.

________. Prefácio da primeira edição do livro Vaga-lumes, ano 1984. In: O ferrolho do abismo. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2015, pp. 14-15.

CONSPIRAÇÃO de Aquário. In: Cariri Revista. Edição 14, Set/Out 2014, pp. 46-51.

MARQUES, Roberto. Contracultura, tradição e oralidade: (re)inventando o sertão nordestino na década de 70. São Paulo: Annablume, 2004.

REJANE, Cláudia. Prefácio In: O ferrolho do abismo. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2015, pp. 6-10.

URANO, Geraldo. Vaga-Lumes. Fortaleza: Nação Cariri Editora / Livraria Gabriel, 1984

_______. O ferrolho do abismo: poesias completas. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2015