sábado, 8 de março de 2008

a cor do lírio




era uma vez uma garota chamada comum
e um rapaz chamado idade
trabalhavam o látex
a terra no meio da estrelas e eles na terra
ela fazia a ceia doce aranha
cuja teia era pura mona

na manhã acampados em itacoatiara
e nada era dúbio porquanto pintura
quantos anos tinha comum
que era lisa
quantos anos tinha ele
monista e na itália e a itália navegava

as terras do kentak na chuva do carnaval
e o soviético que não entendia o carnaubal
lisa tinha relevo como a lua
naquela sociedade escura
embora em frente ao mar
o planeta foi ferido como uma gaivota no ar

a inveja tem um cheiro ruim
é preciso jogar tênis em vez de aparentar
e respeitar o embrião como estrela feita
os versos da terra são órbitas translativas
com a alma is not hindustrializada
o tempo chegou para toda comunidade

o luzir lírico da constelação portugal não esquecera
o chão bailante com seus corais saltimbancos
para onde vai o céu?
as pernas trêmulas do progresso
por açúcar em demasia é falta de respeito
por não interessar a certeza

quanta coisa jogada
mas o mais importante era ver claro
e quem via?
mas o tempo passando voou a gaivota
muito bonecos muita brincadeira
balas e mentiras cairam sobre os índios
nas terras do kentak

cálice e pétalas ao vento
mulatas lambidas pela bruma
ao féerico de um loar a toa
veneno nas praças e ruas
e as novas gerações assustadas
e a batucada aflita a sonhar esperança

os inteligentes perseguidos
pelas bestas de todas as partes
e a fauna em delírio a flora
e o ar marcado por esporas
a montanha de papel
fendida por um terremoto

sumiu a oração fechando os lábios
do sorriso e os olhos apertando
o desespero qual um grande exército
quem salvará a jamaica?
escreviam os repórteres mal dormidos
e os gemidos de canções nas grutas

pobre comum pobre idade
no litoral confuso de cimento
o sonhado rosto da justiça
em que reflexo virá
em que ondas embalado?
quando se pisará tranquilo o solo...
mona lisa mona lisa eis o kentak
sem comunhão
e comunidade a cabeça balançava
e desde a china a cara era a mesma
eram comuns os sentidos e tristes as tristezas
idades inteiras dormindo ou sonolentas

as cidades procuravam surpresas
o planeta perderá o seu programa?
haveria um mundo outro
sacudido como a terra entre as estrelas?
em águas tão altas via-se o oriente
que para o ocidente apontava

salve as musas de fogo
as sereias da tropicália
o branco a umbanda encantada
o coração cubano
o amor el salvador e o norte que não se apaga

ilha de marajó maracás fortaleza
uísque de minas gerais focas ingazeiras
iracema cearense américa grécia
o futuro com seu clarão
todos os injustiçados a paciência a coragem
a cavalaria poética com seus clarins

guaranás e seringueiras
pátria fé porta-bandeira
o certo e só o certo trabalho escola e soja
lugar de fronteira é no infinito
ouro frevo e descobertas
todas as cores e mais as novas

espiritualidade e coletividade
leve o vento para as terras do kentak
a praia nua a rocha firme
corações de vulcano
as esmeraldas interiores brilhem à flor do lago
hare hare


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Poesia editada na forma de folheto de cordel e lançada, presumivelmente, em 1984. Xilogravura da capa: Stênio Diniz, grande Stênio Diniz.


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