eu vi a tua boca na globo
bocaça grandaça
falo das coisas perto
que a gente olha
e não costuma enxergar
mulher de vestido branco
tuas focas teus pinguins
o teu cabaço voou
paris loucona londres louquíssima
em seu rolis róice
na avenida paulista

o saco do mundo
é uma maravilha
tudo se mistura
numa grande ventania
mas se você não vem
não sei como vou terminar essa coca-cola
nesse verão
me sinto o próprio idiota
você nem telefonou
parece que foi pro além
você não vale um vintém

me procure no supermercado
que eu estou à venda
a estátua da liberdade
está trepando com king kong
me compre por favor
numa loja de hong kong
não uso calcinha
sou desinibida
estou doida para inaugurar
a sua avenida
promessa é coisa banal
nesse juizo final
você é um homem de metal
e eu uma dona legal

não quero nem saber
se o meu canto é triste
se a coisa é mal feita
há muito eu perdi o sorriso
por isso vou morar em veneza
procurar Deus em veneza
casar de novo em veneza
entre um copo e outro de vinho
fico olhando as estrelas
então percebo como é pobre hollywood
com suas luzinhas

é um tempo de ferro
de feridas abertas
é um tempo sério
de saias soltas e de vestidos decotados
é um beco sem saída
de gente saindo de fininho
é um tempo de corte e cantigas
um tempo maldito
que a gente encontra graça em viver
porque gente não tem remédio
porque gente não é nada
e o povo é safado
então o jeito é viver com os diabos

esse almoço não presta
essa casa solta no espaço
é uma bosta
1996 tem cara de cão
um enorme cão de fila
para morrer com uns trocados
sangrando entre os dentes
botaí uma dose
essa cachaça maldita
faz eu me aguentar mais um pouco
sou rei nesse palácio de desgosto
maldito luar de agosto
e olha que eu ainda sou bondoso

não foi em vão
a odisseia negra
o brasileiro não se informa
porque não está interessado em ser papagaio
eu não sei dizer não sei
jesus cristo na televisão
minha mãe é uma baleia
minha irmã um avião
nessas águas do caribe
navega o meu coração

o que é que eu faço hoje
segunda-feira na américa
terça-feira no brasil
quarta-feira no japão
quinta na puta que pariu
o que é que eu faço hoje
amanhã em júpiter
depois em saturno
é depois só te comendo
o que é que eu faço hoje
se não há nada pra fazer
faço o teu retrato no vento
o vento leva o meu pensamento
eu tô aqui não sei como
baby me dê o seu ombro

quem morre na guerra
ganha uma estrela no peito
a estrela que eu conheço
é vênus
a guerra é uma estrela sem luz
uma nave singra o céu
é uma boneca com asas
não sabe sangrar de vergonha

o mundo é um menino chorando
trepado em alguma estrela do céu
seus olhos azuis parecem não ver
o outro azul lá do céu
se uma nuvem refresca o seu rosto
mesmo assim não passa o desgosto
com uma puta dor
ele chupa o seu pirulito

quero me balançar nas suas cadeiras
quero aparecer no seu radar
quero ser as antenas da sua barata
estar com você em todo lugar
quero ser o seu mijo a sua cagada
quero ser seu baton seu olhar no espelho
quero fazer do seu coração
meu eterno endereço

brinquedo de vidro
no meu coração é você
acendo um cigarro
e a brasa é você
um corte na mão
tão profundo
foi a sua traição
elefoa louca
na minha áfrica
deixe pelo menos
uma árvore
onde eu possa
descansar embaixo
é embaixo de você
que eu encontro prazer

ei júlia gam
é tanta onça pintada
a lua baila na floresta
ei júlia gam
é tanta vaca malhada
tem chifre pra todo mundo
tem tanta água no mar
tem tanta estrelas no céu
é tanta abelha picando
é tanto carro voando
a lua dorme na janela de um arranha-céu
a lua baila na floresta
tem chifre pra todo mundo
ei júlia gam

quando chove em mim
quando faz sol em mim

o rádio está ligado
no meu coração
vejo o seu rosto cantando uma canção
é um rosto estranho
tão bonito
com dentes tão brancos
ela é o himalaia

quando chove em mim
quando faz sol em mim

ela fala do rio
ela fala do amor
em nenhum canto um sorriso
em nenhum canto uma flor

me bote no seu álbum
sou uma rosa entre os espinhos
me marque no seu calendário
não sou um dia triste
sou festa
festa grega e pagã
riqueza é coisa tão feia
fique com o meu avião
pobreza não é brincadeira
felicidade então
é sua mão na minha mão
abra essa sardinha
liberte esse cardume
essa coisa de ciúme
não vale a pena não

vaca de olhos de manteiga
me dê seu leite pra mim
criatura holandesa
tanta beleza assim
eu entro no mundo
como uma faca no queijo
a lua é tão fresca
essa espuma de cerveja
por quê você não me beija?
eu fico uma espoleta

você se divide em duas coisas
sexo e tecnologia
mona lisa eu te amo
já não há mais sapo nem gia
sabão gostoso no cinema
paquetá paquera ipanema
não tenho mais esse dente
já não há mais oriente
fortaleza iracema

o brasil é um grande amigo

todo mundo diz que o sertão é seco, mas todo mundo fala do luar do sertão