sábado, 29 de março de 2008

mulher de azul


não vou matar a mulher de azul
que anda em todas as praias
e conhece todas as línguas
suas sete filhas estão na piscina
meus olhos se abrem
meu coração já não cabe mais na américa
e eu beijo a que em mim
mata o falso profeta
e me faz ver coisas da china
a mulher de azul
com seus cabelos de sol
e rosto de lua
quer vestir também de azul
todas essas meninas nuas
que morrem heroínas
e deixam os seus nomes nas ruas

quarta-feira, 26 de março de 2008

américa tua cintura me faz sonhar




carnaúba
cana cuba trem
foguete meu trenó
sou ingênuo engenhoso
a lua na maison de agosto
eu tenho gosto
trem pra cuba pelo ar
doce do mar
américa tua cintura
me faz sonhar
gravo a tua voz no disco solar
de amsterdã pra la paz
é uma ladeira danada
mamãe eu quero eu quero eu quero
eu quero jogar
nessas areias de açúcar queimado
de raios tropicais

terça-feira, 25 de março de 2008

quantas cidades


foi uma pequena cidade
hoje é crescida
caminhando escuto a voz dos muros
que em vários tons de tinta
anuncia os produtos de qualidade
e eu pergunto o que você sabe
das alegrias desconhecidas
dos homens de coração de qualidade
quantas cidades
milagres belfast dallas
da janela vejo um automóvel azul
com placa do cruzeiro do sul
baby eu tenho um defeito
que peguei com a filha do prefeito
fecho os olhos penso em deus
vou morrer com esse jeito

sábado, 22 de março de 2008

serenidade*


idade séria que tal serenidade
cantar na tal atualidade
com a nossa musicalidade
e o coração insiste na tal seriedade
só com música na tal cidade

itapuã itaparica tóquio tocantins
o sol do japão pegou um caminhão pro norte
corre o rio janeiro e o riso no carnaval
rosa de hiroshima não nasça no meu quintal


___

*Musicada por Cleivan Paiva e gravada no disco Guerra & Paz (Nação Cariri Discos, 1984)

sexta-feira, 14 de março de 2008



lá a barca

no mar

o amor a barca

leia no ar

na nudez do trânsito

um ônibus nada

feito um bonde das águas

o efeito balança

o corpo da terra

no rio da causa

e brilha a alma

nas janelas

por via aérea

normal

lá uma ave

quinta-feira, 13 de março de 2008

mina amarela



mina amarela
china de jeans
por que você você não me telefonou?
o dia todo fiquei pensando
sem pique para o trampo
a noite me encontrou
desestrelado
porque você jardim de pequim
nem me deu as caras
e agora já é madrugada

quarta-feira, 12 de março de 2008

é praibaro proibir

difere
eu kedere dizer
vértice
isto é
é diferente
portanto
insubserviente
ué disse
eu todos nós
enseuqssomindependente
é praibaro proibir
proibido é proiboro
yes ualqual consença
lhante
palabrniêva
iknon mols encompridiéva
ik aliásle kedere azuzial

terça-feira, 11 de março de 2008

mr. mistério


mr. mistério
suas mãos
seu banjo cor de avião
me lembre aquela canção
rusácea
ceia de som
do som que alimenta as araras
américa das graças
mr. mistério do bom
estamos no mês das graças

segunda-feira, 10 de março de 2008

uirapuru


uirapuru
aparece pra mim
vim te mostrar
o meu cocar
uirapuru
estrela que voa no céu do norte
bichinho vem me trazer sorte
essa cantiga
chegue ao teu peito de cantor
uirapuru
somos da mesma terra
nunca se acabe a selva
no cruzeiro do sul

sábado, 8 de março de 2008

a cor do lírio




era uma vez uma garota chamada comum
e um rapaz chamado idade
trabalhavam o látex
a terra no meio da estrelas e eles na terra
ela fazia a ceia doce aranha
cuja teia era pura mona

na manhã acampados em itacoatiara
e nada era dúbio porquanto pintura
quantos anos tinha comum
que era lisa
quantos anos tinha ele
monista e na itália e a itália navegava

as terras do kentak na chuva do carnaval
e o soviético que não entendia o carnaubal
lisa tinha relevo como a lua
naquela sociedade escura
embora em frente ao mar
o planeta foi ferido como uma gaivota no ar

a inveja tem um cheiro ruim
é preciso jogar tênis em vez de aparentar
e respeitar o embrião como estrela feita
os versos da terra são órbitas translativas
com a alma is not hindustrializada
o tempo chegou para toda comunidade

o luzir lírico da constelação portugal não esquecera
o chão bailante com seus corais saltimbancos
para onde vai o céu?
as pernas trêmulas do progresso
por açúcar em demasia é falta de respeito
por não interessar a certeza

quanta coisa jogada
mas o mais importante era ver claro
e quem via?
mas o tempo passando voou a gaivota
muito bonecos muita brincadeira
balas e mentiras cairam sobre os índios
nas terras do kentak

cálice e pétalas ao vento
mulatas lambidas pela bruma
ao féerico de um loar a toa
veneno nas praças e ruas
e as novas gerações assustadas
e a batucada aflita a sonhar esperança

os inteligentes perseguidos
pelas bestas de todas as partes
e a fauna em delírio a flora
e o ar marcado por esporas
a montanha de papel
fendida por um terremoto

sumiu a oração fechando os lábios
do sorriso e os olhos apertando
o desespero qual um grande exército
quem salvará a jamaica?
escreviam os repórteres mal dormidos
e os gemidos de canções nas grutas

pobre comum pobre idade
no litoral confuso de cimento
o sonhado rosto da justiça
em que reflexo virá
em que ondas embalado?
quando se pisará tranquilo o solo...
mona lisa mona lisa eis o kentak
sem comunhão
e comunidade a cabeça balançava
e desde a china a cara era a mesma
eram comuns os sentidos e tristes as tristezas
idades inteiras dormindo ou sonolentas

as cidades procuravam surpresas
o planeta perderá o seu programa?
haveria um mundo outro
sacudido como a terra entre as estrelas?
em águas tão altas via-se o oriente
que para o ocidente apontava

salve as musas de fogo
as sereias da tropicália
o branco a umbanda encantada
o coração cubano
o amor el salvador e o norte que não se apaga

ilha de marajó maracás fortaleza
uísque de minas gerais focas ingazeiras
iracema cearense américa grécia
o futuro com seu clarão
todos os injustiçados a paciência a coragem
a cavalaria poética com seus clarins

guaranás e seringueiras
pátria fé porta-bandeira
o certo e só o certo trabalho escola e soja
lugar de fronteira é no infinito
ouro frevo e descobertas
todas as cores e mais as novas

espiritualidade e coletividade
leve o vento para as terras do kentak
a praia nua a rocha firme
corações de vulcano
as esmeraldas interiores brilhem à flor do lago
hare hare


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Poesia editada na forma de folheto de cordel e lançada, presumivelmente, em 1984. Xilogravura da capa: Stênio Diniz, grande Stênio Diniz.


sexta-feira, 7 de março de 2008

Deixe eu ir a liverpool



meu poema mais profundo
não foi escrito na arábia
asas para os povos
mamãe deixe eu ir a liverpool
resolver o problema da minha namorada
só quando a maçã for resolvida
o mundo reencontrará a estrada
ah mamãe me diga que país
ainda não saiu da estrada
e em que espelho perdemos
a infantilidade dos nossos olhos?
deixe eu ir a liverpool antes que se quebrem os ovos
diga ao nordeste que não se perca
pra que? com tanta luz na cabeça?
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Este faz parte da profícua fase do início dos anos de 1980 do poeta, e tem uma curiosidade que me foi revelada por Deca (José Bezerra de Figueiredo Filho): o verso "mamãe deixa eu ir pra liverpool resolver o problema da minha namorada", foi dado por ele como mote a Geraldo para a composição do poema. Foi musicado por Luiz Carlos Salatiel e permanece inédito em registro fonográfico. Quando virou letra de canção, o poema sofreu algumas modificações, como inversão de palavras ("meu mais profundo poema" e "em que espelho perdemos os olhos de nossa infantilidade") e supressão do verso "antes que se quebrem os ovos".
Não sei como Salatiel intitulou o poema, que aparece sem título na cópia original. Por isso coloquei o verso "deixe eu ir pra liverpool", cidade natal dos Beatles, devido as explícitas referências ao grupo (além de Liverpool, Maçã, em alusão a Apple, a gravadora fundada pelos Beatles).
Carlos Rafael

quarta-feira, 5 de março de 2008

leia na minha camisa*


estrelas autênticas são raras
e falsos brilhantes abundam
na minha camisa
ela escreveu qualquer coisa
leia é bom!

há olhos castanhos e negros
sorrisos verdes e azuis
não queremos corações pequenos
sobre pernas bonitas
que isso fique claro como um sol
na minha camisa
ela escreveu qualquer coisa
leia é bom!

tudo livre e sério
como uma noite estrelada

*Parceria de Geraldo Urano e Luiz Carlos Salatiel gravada por Pachelly Jamacaru no seu segundo CD "Com as palavras, as músicas" (foto), gravado entre abril de 1999 e outubro de 2000, no DM Studio, Crato-CE, com direção musical de Dihelson Mendonça
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terça-feira, 4 de março de 2008

"canção para quem quiser ouvir"


a sinceridade ofusca o brilho do ouro
aos poucos o povo
deixará de ser um rato dos esgotos
mas somente aquele que procurar se erguer
como é com uma pessoa também é com o povo
quando a humildade desocupa um lugar
nele vai morar o veneno
a grande parte
sabe o que é estar em paz com o lixo
a verdade só chega pra quem quer
bendita é a raça que anseia
descansar a cabeça em seu ombro